Um grupo de juristas, intelectuais, jornalistas e ativistas, entre os quais seis ex-ministros de diferentes governos, resolveu se insurgir contra a ideia de que o país está conformado a um certo grau de tolerância com o arbítrio. No dia 20 de fevereiro, o grupo, inicialmente formado por 20 pessoas, vai lançar a Comissão Arns, destinada a acompanhar, ao lado de outros entidades do gênero, os casos de graves violações aos direitos humanos.
A ciência de que o momento do país seria refratário ao tema esteve presente desde o início das discussões sobre o nome do grupo. Deveria ou não incluir o termo ‘direitos humanos’, desgastado ao longo de uma campanha eleitoral vencida pelo polo político que o associa a direitos dos bandidos? Findou, como nome completo, “Comissão de Defesa dos Direitos Humanos Dom Paulo Evaristo Arns”, ou simplesmente, “Comissão Arns”, em homenagem ao arcebispo de São Paulo que se tornou uma das principais referências na defesa dos perseguidos pela ditadura militar.
Entre os integrantes estão os ex-ministros José Gregori (FHC), Luiz Carlos Bresser Pereira (Sarney e FHC), Paulo Sérgio Pinheiro (FHC), José Carlos Dias (FHC), Claudia Costin (FHC) e Paulo Vannuchi (Lula). A presidente de honra será a ex-presidente da Comissão de Justiça e Paz de São Paulo, Margarida Genevois, e o presidente, Paulo Sérgio Pinheiro.
A comissão conta ainda com a participação do reitor da Universidade Zumbi dos Palmares, José Vicente; o ex-secretário de Justiça de São Paulo, Belisário Santos Jr.; os juristas Antonio Claudio Mariz de Oliveira, Fábio Konder Comparato e Oscar Vilhena Vieira; os cientistas políticos André Singer, Luis Felipe Alencastro, Maria Hermínia Tavares de Almeida e Maria Vitória Benevides; os filósofos Sueli Carneiro e Vladimir Safatle, além do líder indígena Ailton Krenak e a jornalista Laura Greenhalgh.
Num momento em que partidos de oposição e movimentos sociais estão divididos sobre a estratégia de enfrentamento do governo Jair Bolsonaro, a expectativa é de que a pauta de direitos humanos dê liga a este grupo de origens e atuações tão distintas. Entre os alvos já delineados pelo grupo está o acompanhamento da revisão da política de demarcação de terras indígenas e a tramitação do pacote de medidas de endurecimento penal proposto pelo ministro da Justiça, Sérgio Moro.